terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O corpo é ocupacional para satisfazer-se com a busca de satisfação

Já se tratou, em boletins anteriores, de refletir acerca do que se pretende dizer quando se afirma o conceito de saúde funcional bem como o de contrato natural que o corpo humano mantém com o mundo da vida. Esse contrato, em última análise, desvela a situação do humano no mundo, no palco existencial, o que significa, sobretudo, um corpo para um conjunto de tarefas, um corpo em função da realização de algo, que funciona de tal sorte a garantir, em cada ato, a sua permanência, a sua manutenção no mundo da vida (saúde = salus = salvação). Dessa forma, o corpo é uma organização viva em sentido amplo que pretende a referida manutenção em duplo movimento, isto é, a manutenção da presença e da satisfação com a presença; em apertada síntese significa: obter satisfação ao satisfazer as necessidades da presença, donde se conclui que o corpo se ocupa, à prima face, de si próprio e faz de cada ato uma concretização, uma objetivação do seu sentido de ser. Cada tarefa está para a satisfação do referido sentido.
Senão! Poeticamente vêm as perguntas – “As mãos! Ora para que as mãos? Qual o seu sentido? Qual a razão para tanta sensibilidade? Para que movimentos tão refinados? Mãos! Ora para que mãos tão articuladas e repletas de tantas possibilidades se para elas o destino, a finalidade já não estivesse traçada, se já não houvesse uma prescrição natural para essa tão avançada tecnologia. As mãos humanas estão a serviço da intenção de ser e permanecer no palco existencial.
Assim, da mesma forma, cada parcialidade do corpo humano articulada numa totalidade, que é mais que a soma das partes desse corpo, representa essa necessidade primordial de ser e permanecer. De outro modo, pode-se afirmar que os verbos ser e permanecer, que denotam um sujeito de estado, reclamam, para a manutenção dessas condições (estados), verbos do tipo fazer, isto é, pegar, agarrar, soltar etc. Portanto, o sujeito do fazer realiza o sujeito de estado e quando ambos recaem sobre a mesma pessoa tem-se a aparição do sujeito reflexivo.
O corpo (substantivo = substância) ocupacional (adjetivo = atributo) é um conceito sintetizador desse contrato natural entre o existente e o mundo das coisas. O corpo é funcional para salvar-se e ocupacional para além da salvação (transcende a salvação), para uma envergadura existencial mais ampla que a que reside nas funções, isto é, o corpo é ocupacional (contém atributo) para exercitar o seu sentido de ser; satisfazer-se com a busca de satisfação.

Mario Battisti