terça-feira, 20 de novembro de 2012

Narrativa e Terapia Ocupacional




Na Terapia Ocupacional o sentido da Ocupação se desenha, ao mesmo tempo, como “fazer algo” e “existir/permanecer em algo”. Fazer coisas, permanecer nelas e no mundo expressam a incessante busca do ser em oferecer propósito e significado à sua experiência cotidiana; à sua existência.
Essa afirmação, contudo, diz de um sujeito epistemológico; um sujeito teórico (paradigma). O sujeito epistemológico é um referencial teórico, ele é o expediente científico por meio do qual balizamos a nossa prática clínica. Ele possibilita a explicação (papel da ciência) dos fenômenos próprios da humanidade. Portanto, ele é o sujeito unívoco, isto é, no qual restam reduzidos os demais (os outros todos). Ao contrário, a pessoa que se socorre do cuidado do Terapeuta Ocupacional é o sujeito equívoco, isto é, a pessoa prenhe de incertezas, imprecisões e de buscas particulares. Trata-se de um ser na constante e laboriosa construção de sua própria história; sua própria narrativa ocupacional.
O sujeito epistemológico orienta a condução do cuidado da pessoa, mas a pessoa não pode ser confundida com esse sujeito epistemológico. De outro modo, pode-se dizer de uma “anatomia ocupacional”, isto é, de uma ciência que se vale de um sujeito ficcional para articular o conhecimento sobre a ocupação humana e guiar os raciocínios clínicos, mas não é dele que se trata/cuida. O perigo reside em tomar a pessoa pela ficção e cair na tentação de cuidar do sujeito epistemológico projetado na pessoa humana. O sujeito epistemológico não é possuidor de uma narrativa, ele é desprovido das imprecisões da equivocidade do sujeito real.
Na clínica centrada no cliente há uma excepcional supremacia da pessoa sobre o sujeito epistemológico, uma vez que na repriorização do setting terapêutico ocupacional tem-se a aparição da narrativa ocupacional. Daí a importância da ciência explicativa que tem origem na clínica compreensiva.
Ele fez [...] ele permaneceu [...] ele disse [...] houve vazio de fazer [...] um trecho da vida [...] álbum de fotos [...]
Mario Battisti

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